Fé, oração, beneficência e selfies
A tarde de nosso primeiro dia na cidade começou com o que selecionamos: visitas ao Bangla Sahib, de 1783, um dos gurdwaras (templos sikh) da capital, e o Lakshmi Narayan, hindu, construído em 1938 e inaugurado por Mahatma Gandhi, no bairro Nizamuddin.
O Gurdwara Bangla Sahib
Como um imã, o Bangla Sahib atrai milhares de turistas e deixou de ser apenas um templo sikh e casa de beneficência – que serve diariamente cerca de 10.000 refeições gratuitamente – para consagrar-se numa popular atração da cidade.
Em sua cozinha, num ato filantrópico, enorme quantidade de refeições, incluindo o roti – pão indiano -, lentilhas e legumes, é voluntariamente preparada pela comunidade para alimentar populares, a partir das matérias-primas doadas por comerciantes seguidores da religião. Uma visita organizada tornou-se uma experiência que permanece indescritível, mesmo nove anos depois de minha primeira vez, mas desta, ainda melhor, porque circulamos o tempo que quisemos pela cozinha com Niraj, nosso guia perfeito de Delhi.
O lugar tem atmosfera tão peculiar e cativante quanto é difícil expressar, especialmente pelas pessoas que ali estão, em sua quase totalidade indianos, sikhs ou não, onde entre elas nos tornamos “celebridades”, raríssimos ocidentais constante e carinhosamente chamados para selfies individuais, em grupos ou, simples, registros deles mesmos, como se nos dissessem “levem nossa foto como recordações da Índia”.
Além do templo, um museu de história sikh, uma escola secundária, uma biblioteca bem abastecida e uma lojinha completam as atrações. Mas, o bom mesmo é o templo.
Tudo começa numa confortável sala com bancos onde nos sentamos para a retirada dos sapatos e cobrirmos os cabelos. Mulheres à moda muçulmana, homens com lenços fornecidos ali. Depois, caminhamos descalços e subimos uma escada, passamos por um canalzinho de mármore com água corrente para o lava-pés simbólico, já que ninguém capricha.
Descalços, caminhando por pisos de mármore limpos e frios ou passadeiras de tapete, entramos no enorme salão de refeições e continuamos até a cozinha, onde voluntários preparam quantidades de refeição para um batalhão, em panelas compatíveis com a demanda. Qualquer indivíduo, de qualquer religião, inclusive turistas, podem comer ali. O grande refeitório chama-se langar khana, e abriga centenas de pessoas, enquanto igual número espera sua vez no próximo turno. Tudo sem qualquer distinção de status econômico, social ou religioso.
O gurudwara é quase todo construído em mármore, de uma brancura que sugere pureza e paz. Em silêncio, visita-se o interior do templo, sobretudo seu ponto mais solene – o palki (palanquim) ao centro de um salão, bem ornamentado – onde está o livro sagrado, e também novamente somos surpreendidos pela quantidade de devotos e turistas. O livro é uma cópia do Guru Granth Sahib, a sagrada escritura sikh, que fica ao lado de músicos sentados sob um dossel entoando kirtans (canções religiosas) cantadas por sacerdotes, enquanto um deles continuamente lê trechos do texto sagrado.
Por fora, as impressionantes cúpulas pontiagudas – três “cebolas” banhadas a ouro sobre o prédio, uma delas de mármore soberbamente trabalhado – e o grande, alto e arqueado, encimado por cinco chattris – cúpulas sustentadas por pilares – também de pedra branca decorada com discretas incrustações florais. Ali também fica o sarovar, enorme tanque de água com um reflexo perfeito do templo, dependendo da hora, fica ainda mais bonito ao fim do dia, especialmente ao pôr do sol. É o ponto alto da visita, quando parecemos celebridades continuamente solicitadas para uma selfie. O lugar seria perfeito para uma composição fotográfica, não fosse a multidão. Permanecemos ali até o final da tarde e nos divertimos muito, nos sentimos privilegiados com a experiência e a generosidade sikh, sobretudo compreendendo o motivo porque o Gurudwara Bangla Sahib tornou-se uma das atrações mais populares da cidade.
O Templo Lakshmi Narayan
Dedicado ao Deus Laxminarayan, construído em 1938 e inaugurado por Mahatma Gandhi, com um grande jardim interno, fontes e santuários em três andares, o que me atrai é seu estilo arquitetônico, igual aos mais abundantes templos do norte da Índia, com adornos e esculturas que retratam cenas da mitologia hindu. Não pode ser fotografado por dentro, uma pena. Retornamos felizes ao “ícone de vidro de Lutyens Delhi”, onde jantamos e dormirmos nossa primeira noite na Índia.
A seguir
Capítulo 3: Um dia fabuloso em Delhi
Fantástico!!! Fiel do início ao fim. Experiência maravilhosa . Parabéns!
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Fotos e narrativa ótimos!👏
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