Quando a noite chega, um mundo novo surge em Okonjima. Terminávamos o dia e a viagem na reserva de leopardos e guepardos. E que dia fora aquele! Vimos os mais belos felinos que alguém pode encontrar estando em África. Mas não foram os animais que desenharam a fisionomia e a personalidade do fim do dia, senão o mais belo anoitecer, o último de nossa viagem.
Eu já desconfiava que encontraria um novo sentido para a palavra “beleza” no próximo entardecer. Afinal, desde o primeiro poente, em todos os dias eles repetiam sua impetuosidade, de tal modo que o novo tornava-se mais bonito e deixava o anterior em segundo plano. Perdoem a falta de humildade, mas os dias na Namíbia eram todos assim, começavam e se iam com o sol nos fazendo mais felizes, os lugares mais bonitos e as fotos mais encantadoras. Mas aquele foi o mais loucamente belo da vida.
Todo poente na Namíbia vem com uma vantagem: revelar um dos céus mais limpos, com as estrelas mais cintilantes, entre os mais admiráveis e infinitos que se podem observar no planeta. Nenhum poente é humilde, discreto e sem personalidade na Namíbia, mas arrogantemente belo, nos fazendo reavaliar, a cada novo, nossas convicções de que beleza tem limite.
Aos poucos a natureza ia se tornando mais dramaticamente bela, uma conjunção de céu, nuvens, terra e cores, tons e contrastes de tal modo dinâmicos e integrados que tornava aquele o novo “mais belo pôr-do-sol” que eu vira no país. O mais belo sim, porque para nós tudo terminava ali, não haveria outro amanhã na Namíbia para nós, pelo menos não naquela temporada. É verdade, talvez o leitor perceba que eu estava mais sensível com o iminente término da viagem, emocionado porque ali brindávamos, em comemoração, a despedida.
Mesmo Verão, uma brisa soprava discreta, acariciava a pele e derrubava folhas e eu era tomado pela beleza e emoção de estar ali. O dia terminava e com ele a viagem, e não poderia haver melhor hora e lugar para nossa despedida. A luz minguava, adicionando poesia à paisagem, e eu aproveitava até o último momento sua partida.
Dias depois, já em casa, quando as atividades acumuladas me deram tempo de “revelar” as fotos na tela do computador, uma dor – uma dor gostosa de saudades – me fez lembrar dos cheiros, dos sons, das vozes, das experiências, dos sabores e dos amigos. Agora longe, vejo mais uma vez – em dezenas de fotos – o sol derretendo o horizonte e aquele resto de luz criar um arco íris.
Obrigado, Namíbia. Muito obrigado, François, Pedro, Gabriel, Grazi, Pará, Márcia e Haroldo. Por tudo, por tantos e por tão intensos momentos que vivemos juntos naquele solo.
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Quer continuar comigo? Então vamos! Próxima viagem:
DIAS de MYANMAR
Da colonial Yangon aos mil templos de Bagan
Primeiro capítulo
As lagartas de Kyaing Tong