ÍNDIA – O reverso do mundo, um poderoso fascínio

Incredible India
https://www.incredibleindia.org/content/incredible-india-v2/en/destinations/amritsar.html

Eu quero a sorte de uma vida longa. E se mesmo sete delas eu tivesse, todas gastaria viajando, a coisa mais certa entre todas as coisas certas que faço na vida. E se já conheço o suficiente do mundo para não me impressionar com qualquer coisa, destino ou país, não com a Índia. É por ela que agora escrevo, esse inferno e céu, o reverso do resto do mundo para alguns, um realismo mágico em forma de nação para mim.

Hawa Mahal – Jaipur (VIVEK KUMAR)

E se num dia qualquer penso nela, aborda-me o desejo de revê-la. Tal como o canto da sereia – que seduz (mas a mim não ilude) – ela me chama. Ou, quem sabe (já que tudo é misterioso), em decorrência do primeiro tilak[1] – o sinal de benção que me colocaram na testa. Posso também pensar ter sido pelo pôr do sol que dourava a muralha da fortaleza de Jaisalmer. Ou por tantas outras coisas, porque a Índia é uma “força estranha”, incomum e misteriosa que sente-se em toda ela e por tudo ali.

Incredible India – Lucknow

E nessa batida, na única vida que tenho, iremos de novo. A ver lugares que não conheci e a repetir uns que já visitamos. Por que? Porque não há duas viagens iguais à Índia, senão pormenores em cada, instantes pequenos e grandes que vão tornando a jornada um novo encanto, quase como se fosse inédita. Se neste vasto e atrativo planeta não são escassos os lugares que merecem ser vistos e revistos, poucos me estimulam e surpreendem tanto quanto a Índia.

Wagaa Border https://www.sapiens.org/culture/india-pakistan-partition-border-ceremony/

E se há viagens e destinos que parecem não ter fim dentro de mim, a Índia lidera a lista. Com o prazer e impacto da primeira visita permanecendo notáveis, tem sido assim ao retornar. Nesta minha alta altura da vida, nada me parece fazer tanto sentido quanto deixar-me levar pelo que me revolve o cérebro. Sinto-me afortunado. Duas vezes. Por poder voltar o quanto desejo e por ter alguém ao meu lado que compartilha desse sentimento.

Lucknow – Incredible India

            Iremos a Delhi para apenas uma noite e lá visitaremos o templo Akshardham, maior templo hindu do mundo. Seguiremos a Amritsar para conhecer de dia e à noite o Tempo Dourado, e perto de lá, em Wagah Border, assistiremos a cerimônia da troca da guarda na fronteira Índia-Paquistão. Partiremos para Lucknow – capital de Uttar Pradesh – e depois para Jaipur e Udaipur, no Rajastão, de onde voltaremos ao Brasil, via Roma, onde ficaremos dois dias.

Até a volta!


[1] Marca na testa, seja um traço comprido ou um ponto os olhos que sugerem tranquilidade, poder,vigor, riqueza, prosperidade, entre outros, dependendo da cor.

Akshardham Temple, Delhi

Swaminarayan Sanstha – http://www.akshardham.com/photogallery/mandir/index.htm

Já se vai um ano. Bem-vindo, 2024!

Viver é tão bom

Acordei cedo, pouco antes das galinhas e com um triste sol pálido. Era véspera do Natal e quase de nossa partida para a Tunísia. Eu pensava naquilo como nunca, no atípico dia frio e um bom lugar pra ler um livro. Mas não. A força do pensamento me fez passar um filme que me dei ao gosto de deixá-lo rolar. Não era a coisa mesma, de sempre, aquela lengalenga de todo fim de ano, de pretextos para reflexões filosóficas, de gratidões e promessas que – se não tomo cuidado – convertem-se em não cumpríveis.

Não. Nem eram as da minha imaginação, sempre ampla, livre e prodigiosa nesta época do ano. Se desembrulhava na memória um aglomerado contínuo de imagens. E das boas, mesmo que não em technicolor e já um pouco desgastadas. Estavam no tempo e carregavam o tempo com elas. O filme ganhava sentido com as recordações de quando “passei” (nem posso dizer que “estive”) por Túnis numa viagem de cruzeiro pelo Mediterrâneo no século passado. Apesar do desgaste, senti-me privilegiado em tê-las ainda na memória nessa altura da vida, o que comemoro, tal como o Ano Novo.

Foi coisa breve, como não será o prazer de aterrar num destino desejado, de retornar ao estimulante continente africano, desta vez não ao Sul – para ver animais – senão ao teto da África. E de novo à Tunísia, para sete dias de visitas. Na escolha, não hesitamos no destino. E do começo ao fim, acreditamos que será uma viagem com tudo para dar certo e que também haverá de ficar impressa.

Dezembro acaba e com ele o Natal e também meu pouco entusiasmo com a data, que nem por isso deixa de ser gloriosa, pois imenso será o prazer de reunir familiares em minha casa na noite do dia 24. Tão francamente quanto posso ser, não sou religioso, o que para mim não tira do evento o prazer. De me esmerar em proporcionar uma bela noite de encontro, de troca de presentes e confraternização, numa mesa e numa sala cuidadosamente preparadas para a honra que se repete todos os anos.

Variantes depois de variantes, dois anos sem vergonha passados e tumultuosos, cinco doses depois, quase morta a pandemia, aproxima-se um janeiro estalando de novo. Não foi tão duro o ano velho, ao menos não como os dois que o antecederam. Difícil para alguns e maravilhoso para outros, de todo modo fica para trás. Não eu, que por caminhos mais retos que tortuosos, aos 72 anos chego ao novo imaginando-o com esperanças. E como bem disse Rubem Alves, em “O tempo e as jabuticabas”, sentindo-me como o jovem que diante de uma bacia de jabuticabas, chupa as primeiras displicentemente, mas ao perceber que terminam, passa a roê-las até o caroço.

Procuro não esperar ocasiões especiais fantasiosas que nunca chegarão, porque afinal, somos nós mesmos – aqui e agora – os responsáveis pela criação de nossos momentos. Carpe diem, quam minimum credula postero (aproveite o dia de hoje e confie o mínimo possível no de amanhã) pode ser meu novo lema de vida nesta altura dela. E vou entrar com o pé direito, que dizem trazer sorte. Embora nestas coisas não haja nada certo nem seguro, nós merecemos pensar num ano mais virtuoso.

Coisas também deixei pelo caminho. Outras haverão de chegar. O ano foi bom, de retomadas e reconquistas no trabalho, na vida, nas viagens e relações humanas. Diferentemente daqueles sem fundamento, dos que passaram destrambelhados, loucos de imprevistas e incertezas. Considerando além dos extremismos que parecem ainda resistir, todos perdemos. Agora nós, a humanidade, temos de novo um lugar ao Sol e torna-se justo ansiarmos por uma tempestade de bonanças.

Viajar me parece uma boa ideia para celebrar o novo ano. E esperar que os caminhos e atos tortuosos se endireitem, pelos recomeços e restauração de vidas. Chego aos 72 anos de idade com muito a festejar. Devo à vida essa riqueza e o faço com prazer. Soa como uma declaração de amor? Pois é! Afinal, a felicidade está na compreensão de que a vida precisa ser comemorada, não apenas vivida. A primeira é uma condição da segunda. E não dá para adiar mais a felicidade, embora, por certo, eu deva postergar a vontade de aprender piano, mas não as viagens planejadas e os lugares ‘estranhos’. Espero-as, nos próximos 365 dias. Que venha bem o ano novo! Preciso, enxuto, direto e certeiro. Ensolarado, nada dos sombrios cinzentos de chuva miudinha.

Bom Natal e maravilhoso Ano Novo a todos! E até lá, Túnis.

Tunísia, Roma e Florença

A vida, uma viagem

Desperto no silêncio da noite. O relógio anuncia as cinco da manhã. Em meio às luzes pelas frestas, à penumbra que antecede o alvorecer, penso: “não era para essa luz entrar agora!” Mas aquele raio, que atravessou meio planeta para me despertar, nesta altura alta da vida veio lembrar-me que isso tem deixado de ser peculiar. Percebo a melodia suave da chuva a cair lá fora e lembro-me de que o tempo – este senhor implacável – prossegue em seu curso inexorável. E o sinto como se batesse à minha porta, através daquele raio, e à consciência quisesse me fazer recordar de algo vital. Atendo e ele diz: “O novo ano se anuncia”. Surpreendido, indago mentalmente: “Outro ano novo, já? Mas ontem mesmo vi o passado chegar!” O tempo, atencioso, mas sem dele mesmo a perder, com sua soberba, repara, me escuta e responde: “Sim. E não há que caminhar vagamente pela estrada da vida”. Então ele, majestoso, tão dono de si, vira-se e mostra que não liga para mim, que continuará a passar de seu jeito intolerável.

Eu nem queria lembrar-me, mas experimento mais uma vez o peso de minha própria jornada. Vivo o desconforto da idade, mas também celebro o privilégio de ainda estar por aqui, pois não sou de remoer o passado, mas de fitá-lo com gratidão, pois cada instante dele moldou quem eu sou. E para minha sorte, impôs-se bem mais ao meu corpo que à minha mente. Eu gosto de mim! E, afinal, ele passa assim desde que o tempo é tempo.

Não há tempo a perder no Outono da minha vida

Meu aniversário coincide com os primeiros raios do ano. Dia dois. Uma desvantagem, pois adentro o novo ciclo já tocado pelo envelhecimento. Contudo, a consciência sussurra que nesta etapa da vida – onde o passado supera em muito o futuro – não há a perder, embora eu viva um eterno desencontro entre a velocidade com que ele passa – a mesma com que noto meus filhos crescerem – e aquela que eu desejava que passasse. Não há mais tempo a ficar parado. Nem mesmo para ouvir toda a minha própria história.

É apenas mais um ano“, costumam dizer. Contenho a vontade de replicar, optando pela reflexão e num instante fugaz, minha mente conclui: sete décadas! E um pouco mais próximo do ocaso. O Outono da minha vida. É sempre assim, desde que o tempo é tempo. Não há razão para correr em busca da salvação, pois o risco de tropeçar é iminente. Contudo, faço o que está ao meu alcance: cuido da saúde, estimulo os neurônios, fortaleço os ossos e músculos, embora adie a cirurgia de catarata como se adiasse o tempo, essa inevitabilidade. Deixo meus pensamentos e planejo a próxima viagem.

Viajar é bom. Para ir ali e voltar, sofrer e chorar, rir e comemorar, como olhar de quem sabe ou a surpresa do desconhecido, numa tocada leve ou levada atrevida, a passo de caracol ou corrida de lebre, para lembrar-se de um simples momento ou marcar-se por toda a vida, para que a viagem nunca se acabe dentro de si, ou para que se a esqueça logo após, viver instantes pequenos e momentos grandes, segundos ou dias, entre sisudos e cordiais, experimentar a hospitalidade de uma nação inteira ou o mau humor de outra, como náufragos numa ilha ou num ônibus de excursão. Do Senegal a Zanzibar, da Lapônia ao Butão, da Mauritânia à Amazônia. E ver-se mergulhado nos preparos ou ir sem um qualquer.

 Para tentar sem conseguir ou para vencer. Tal qual um globetrotter ou um estreante, no Inverno ou no Verão, nas proximidades ou numa volta ao mundo, ver as coisas feitas para o gosto do turista ou aquelas que eles nunca visitarão, entrar num pagode ou numa catedral, castelo ou casebre de palha, andar ao acaso ou com sentido, não ter o que fazer ou por uma agenda impossível, com poderes mágicos ou com humanos limites, para passar e cumprimentar alguém, mas não responderem, ou para não crer num convite a entrar. Por lugares remotos ou entre os mais lotados, sentir-se um descobridor ou turista acidental, por um deserto ou numa estrada lisa, à beira da via ou dentro dela, para que a estrada seja a viagem ou que tudo esteja apenas ao fim dela. Por trilhos ou rios, sobre um camelo ou num caminhão overland, de bicicleta ou de moto, de jipe, sob um crepúsculo arrasador ou um belo amanhecer. De dia ou à noite, acampando sob um céu estrelado ou dormindo num hotel espetacular, deambulando por entre uma floresta de edifícios numa megalópole ou numa cerrada floresta tropical, vendo gente ou só animais. Por um ano, por muitos anos ou alguns dias. A um ícone urbano ou a um vilarejo escondido. Para cercar-se do mundo ou dele afastar-se, para fotografar, filmar, escrever umas linhas ou um livro, e assim fazer a viagem viver para além de sua memória, na de muita gente. Para buscar nela o consolo ou comemorar a felicidade. Para ser a primeira ou a última.

Viajar é bom, enfim, e um bom meio de viver essa riqueza que é a vida. E será assim mais uma vez, quando o Natal mal terminar, eu com minha metade passarmos da festa para a próxima viagem: um encontro turístico no Norte da África, com a Tunísia – um lugar que embora tenha tudo para ser, ainda não foi descoberto pelo de massa – numa jornada desejada e planejada que mais uma vez marcará para o bem o resto de nossas vidas. Por lá ficaremos, e na volta, pequenos dois dias em Roma e outro par em Florença. Que coisa, não?

Viva a vida, o novo ano, e fé no que virá!

O medo do lado direito!

Uma reflexão pairava em minha mente. Era uma daquelas miudezas que carrego e, precisando ou não, volta e meia me ocorrem. Sentia um frio interior, ou talvez borboletas no estômago. Medo e ansiedade. Mesmo estando psicologicamente preparado, senti o temor e entrei em estado de alerta ante a iminência de uma ameaça. Ao pisar o solo africano, sabia que em breve estaríamos próximos a animais selvagens. Contudo, a apreensão não era por eles, pois não sou um turista inexperiente nessas situações.

Encontrar os Big Five – leão, leopardo, elefante, rinoceronte e búfalo – costuma ser emocionante e seguro, especialmente em safaris guiados por profissionais. Encará-los de um jipe sem capota não seria novidade, e eu sabia que os animais veem o veículo como um ser de grande porte, não um mero humano. Primeiro, os veículos e pessoas dentro deles não são vistos como alimento e, em todos os casos, também não como predadores. E têm um cheiro pra lá de esquisito: combustível, fumaça, lata e borracha. Às vezes os animais se aproximam tanto – e sem medo ou agressividade – que nos provocam o que sequer imaginam provocarem. Dizem que são os animais que sentem medo de nós, mas… ouso desconfiar dessa tese.

Não sou uma pessoa medrosa; tenho mesmo até um lado destemido. Conhecia a ciência por trás daquela coisa de observar animais em safaris, mas também a facilidade com que uma leoa faminta, um destemido guepardo ou um atlético leopardo poderiam pular dentro do jipe sobre nós. Ninguém quer que um leopardo saia de seu estado relaxado para tornar-se uma fera com temperamento selvagem. Contudo, estava certo de que um ataque nessas condições seria improvável, desde que nos mantivéssemos dentro dos jipes, que evitássemos movimentos bruscos e respeitássemos as características de cada animal. Então, assim, caro leitor, não era o que eu temia.

O pensamento avançou quando me deparei com a ameaça: a “besta” de lata, uma picape 4×4 Toyota com o volante do lado direito! Volante, dois pedais, freios de mão, comandos e tudo mais para conduzi-lo do lado esquerdo. Ah, esses esquerdistas ingleses! Assim, desse jeito estranho, certo ou errado, conduziríamos por 3.600 quilômetros durante nossa jornada sul-africana nos próximos 15 dias.

Ainda que não no intenso – embora civilizado – tráfego londrino, senão na ensolarada África do Sul, e num comboio, foi sob essa atmosfera mista de excitação e medo, de compreensão e adaptação, que recebemos nosso carro. Por enquanto, a inteligência não parecia reagir como deveria, senão tornando-se passiva, presa ao fato. Resignada. E enquanto eu arrumava o carro com coisas pessoais, ouvíamos instruções do trio Grace, Robert e Renato. Coloquei flanelinhas, álcool em gel, creme de mãos, lenços de papel para idas às moitas e coisas afins, além de um GPS, cabos e carregadores para celulares, nada menos do que temos em nossos carros em casa. E enquanto eu arrumava, o cérebro ia se acostumando, ambientando-se, e o temor se reduzindo. Desliguei o automático e entrei no carro a primeira vez. Pelo lado errado!

Ajudou-me imaginar que a polidez tradicional britânica poderia ter sido transmitida aos sul-africanos na condução. Mas isso só saberíamos dirigindo. O fato de o carro ser automático também contribuía, era um problema a menos para exigir de meu cérebro. Mas nem todos eram. Automáticos, quero dizer. Fui o segundo a me inscrever na Overlander, e quase como condição de viagem pedi à Grace que reservasse um que não fosse com câmbio manual. Ela assegurou a possibilidade, embora os manuais dominassem. Aos demais companheiros que tiveram que enfrentar câmbios manuais, minha homenagem e reconhecimento à sua superioridade!

“É só seguir”, pensei. E feliz porque percebia que o medo, naturalmente, logo seria passado. E que o futuro está no futuro, então, melhor era viver o presente da maneira mais intensa e dedicada possível.

“É só seguir”, pensei, depois de organizadas as peças dentro da minha cabeça. 

            A primeira vez a gente nunca esquece

O brilho da manhã era cintilante e depois do medo, eu sentia a efervescência natural que a curiosidade pelo que viria à frente provocava em meu cérebro. Eram algumas primeiras vezes juntas num só momento: a primeira que dirigi ao modo inglês, que viajei em comboio, que visitei a África do Sul mais extensamente, para além de Joburgo, Cape Town e Sabi Sand. Uma viagem que parecia ali já tornar-se marcante, apesar de tão cedo. “Não, é muito cedo para tornar-se inesquecível”, pensei.

Mas foi assim. Mais do que ansiedade, esse prelúdio comum ao início de uma grandiosa jornada, de algo tão esperado, a sensação fora tão fugaz que logo me tornava familiar com tudo. E então tudo se configura como um convite. Não havia por que ter tempo a perder, mas um roteiro justinho a seguir, mínima, cuidadosa e caprichosamente planejado por Grace e Robert.

Dullstroom – aninhada entre majestosas montanhas com um riacho a lhe banhar – nos acolhera com simpatia e marcava o início da segunda etapa dos 3.600 quilômetros de nossa jornada pela África do Sul, embora a primeira nem contasse, pois fora o deslocamento de Joburg até ali.

Adentramos no veículo, nosso fiel comparsa nos próximos milhares de quilômetros, para uma volta pela cidade, um breve período de ambientação e uma ida ao supermercado para compras de conveniência. De água mineral a guloseimas. Durante o percurso, recebemos instruções de condução, de leis de trânsito e de costumes e minha mente processava a experiência. E tudo fluiu com uma naturalidade e familiaridade espantosas. A não ser pela insistência em acionar o farol alto quando queria o limpador de para-brisas. Mas isso nem conto, porque foi até o fim da viagem. Nem fico vermelho em dizer que até no Brasil andei fazendo o mesmo!

A seguir:

Terceira etapa:

De Dullstroom ao Kruger ParkUma viagem e muitas descobertas

OVERLAND África do Sul – Capítulo 1: A chegada à Porta de África

De Johanesburgo até Dullstroom

Os primeiros raios de sol apareceram timidamente nas janelas do avião enquanto tomávamos o café da manhã. A chegada iminente a Johanesburgo, nas primeiras oito horas do dia, animou meu coração aventureiro, que batia no ritmo dos tambores e marimbas da música africana. À medida que nos aproximávamos da “Porta de África” – como chamam carinhosamente a capital – também ficávamos mais próximos da promessa de experiências encantadoras em que o programa da viagem se desdobrava. “Um mundo num país”, como os organizadores descreviam. Múltiplo e plural. E eu, sem resistir a nada desse mundo, entregava-me já a tudo o que encontrava.

Então, como em todas as viagens – da preparação à conclusão – o momento era mais do que o de uma simples chegada, senão o auge do começo de uma exploração, de aventuras com tudo para nos deixar marcas como tatuagens. O que, afinal, é de esperar qualquer viajante no início de sua jornada. Mais do que uma esperança, eu sentia convicção. De de que a viagem seria encantadora, diversa, marcante. E que iria além, teria outros resultados, o de uma interação admirável com o destino. Da megalópole civilizada às cidades europeizadas, do sertão selvagem às reservas descomunais ocupadas por uma centena de espécies animais, das montanhas ao litoral, dos oceanos Índico e Atlântico, das focas, baleias, pinguins aos animais das savanas.

O aeroporto nos recebeu calorosamente, ou pelo menos assim eu senti. Entre muitos viajantes de várias nacionalidades recuperando bagagens e passando pela imigração temporária, observei rostos desconhecidos que pareciam refletir os mesmos anseios. Cada um vivendo suas expectativas ou nostalgias, alimentando os sonhos de antes do pouso, com igual espírito da exploração. Vivemos o breve momento em que o importante não era apenas chegar, mas estar lá, viver e sentir o destino. E seria difícil apontar outra sensação tão relevante, embora comum, mas forte, vasta e substanciosa. O prazer da chegada, se me entende. Ali nascia a abertura da narrativa da viagem, e eu não deixaria escapar nenhum detalhe desse momento.

Logo nos encontrávamos no ponto para reunião do grupo – no Aeroporto Oliver Tambo, de Johanesburgo – definido por Robert e Grace, da Overlander.

Os demais participantes, todos com o mesmo entusiasmo, iam chegando e se juntando, se apresentando, até serem quase familiares. Conduzidos ao transporte que nos levaria para bem distante da agitação urbana, nos esperava a cidade de Dullstroom, primeiro refúgio e lugar onde receberíamos nossos carros. O caminho foi por bom asfalto e entre conversas, paisagens e cenários que aos poucos iam revelando o interior do país, colinas verdes ondulando em harmonia com um céu expansivo e azul, tudo sob um clima que não parecia haver melhor.

No caminho para Dullstroom, paramos em Alzu, a 175 quilômetros de Joburgo, num ótimo posto com restaurantes e conveniências.

Em Dullstroom, pequenina cidade aninhada entre as montanhas, fomos recebidos com a hospitalidade tradicional sul-africana pela equipe do The Highlander Hotel, cujas suítes aconchegantes e espaçosas prometiam uma noite de descanso necessário. No quarto, sobre uma mesa, encontramos os kits pessoais e mimos que demonstravam o impecável capricho de Robert e Grace.

A noite caiu trazendo consigo um caloroso senso de comunhão. Foi no jantar, reunidos numa elegante mesa do restaurante do hotel, onde compartilhamos um jantar de boas-vindas oferecido por Grace e Robert, acompanhado de um delicioso vinho sul africano. O riso e a simpatia fluíram como um rio tranquilo, enquanto histórias pessoais se entrelaçavam para formar uma tapeçaria de memórias e a personalidade do grupo naquela aventura.

O aroma dos pratos permeava as narinas. E os risos e conversas se misturavam com as notas suaves das garfadas, dos goles do poderoso pinotage e da trilha encantadora que revelava o bom gosto do casal proprietário do hotel.

Dormimos cedo e confortavelmente, enfrentando mais frio do que o esperado. Com o nascer do novo dia, a expectativa se concentrava no recebimento dos carros e instruções. A energia era palpável. Estávamos prontos e unidos para seguir nosso roteiro.

Robert, Grace e Renato da Overlander, a quem mais tarde chamaríamos de “trio”, demonstraram, desde a recepção no aeroporto à preparação dos veículos, que seríamos conduzidos com dedicação e atenção muito além do que poderíamos supor. Era a deliciosa sensação de um começo de viagem que nos deixaria lembranças eternas.

A seguir:

Segunda etapa:

De Dullstroom ao Kruger Park

Outono em Praga

Praga à noite | ©Hannes Flo – Istagram

Como se a luz do dia fosse insuficiente, a noite se insinua e tudo se transforma. O crepúsculo comove, acaricia, instila em nós um encantamento que arranca suspiros, como quase tudo nesta cidade. Se o dia não foi pleno o bastante, a noite, sem dúvida, transformará seu observador no mais recente apaixonado. Aquele que, mesmo sem proferir palavras, sem publicar em revistas ou blogs, sem partilhar com os seus ao chegar em casa, de alguma maneira, sem difundir seu encanto, o traz expresso no rosto, gravado na mente e guardado no coração. Posso duvidar de quase tudo, exceto do modo como Praga encanta desde o primeiro momento..

É outono em Praga. O sol agora não se despede por trás de Malá Strana nem lança seus últimos raios de luz tênue e enfraquecida, mas que se projeta com a mesma magnitude sobre a profusão de torres pontiagudas, de cúpulas e fachadas da gloriosa Cidade Velha. Desta vez não. A luz, que costuma realizar prodígios na linha do horizonte e transforma o instante efêmero num dos mais comoventes, mágicos e românticos que se podem experimentar na capital boêmia, converte-a numa rapsódia. Rapsódia, seja arcaica ou moderna, de Antonin Dvorak ou de Freddie Mercury, mas igualmente tocante. Ou ainda, numa serenata de Mozart e com a mesma intensidade e suavidade dos crepúsculos de verão em Praga.

Para o observador, a sensação pode ser real ou de fantasia, contudo um fenômeno de beleza incontornável, que visto assim, desde a Ponte Carlos, converte espectadores – hordas de turistas encantados – em seres mais felizes, de corações mais aquecidos e dias melhores.

Praga é poética, uma “praga” que inspira centenas de centenários dedos e mentes de escritores e poetas vivos ou mortos que já a descreveram, cada qual com sua força e interpretação, sem que precisassem de poentes tão vigorosos, das primaveras e outonos refletidos nas águas planas do Rio Moldava. Ajudaram, talvez sem querer, a tornar as outras cidades da Europa um pouco menos belas. E nos fizeram reconhecer que para além da beleza escancarada da cidade, vive-se ali uma atmosfera romântica e mágica que engole quem já não antes houver sido tragado por sua arquitetura.

Creio que até os corações de bronze dos santos da Ponte Carlos aquecem-se n esta hora. Trinta deles, transformados em metal pelas mãos talentosas de escultores nos anos 1600 e 1800, os quais parecem reverenciar o astro rei do mesmo jeito que nós, turistas mortais, são tomados pela plenitude da beleza, estátuas que trazem boa sorte, que realizam sonhos secretos para os que sabem deles, que no bronze escuro esfregam as mãos com pedidos, na esperança de realizarem-se.

Nossos corações aqui se entregam e custam a se recuperar do momento. São marcados pelas “garras que possui a cidade”, nas palavras manjadas de Kafka. Apreciá-la da Ponte Carlos nos rouba a razão por instantes, de tal modo que chega-se a pensar em alguma magia exclusiva ocorrendo por ali.

Praga merece olhares elegantes e palavras alinhadas, embora às vezes seja difícil ignorar as ordinárias e os clichês. Sobretudo quando descrevo seus lugares mais expostos ao turismo, como a Ponte Carlos. Tanto quanto possível, merece de mim o melhor. E não só por sua beleza, mas por seu conteúdo: de Mozart a Kafka, do barroco ao renascentista, das ruas estreitas e sinuosas às largas avenidas, das tantas e belas igrejas aos ricos e curiosos museus que às vezes convertem a cidade numa sala de aula.

Com o mesmo aprumo de meu olhar, tento descrevê-la exercendo minha liberdade de trafegar pelo poético e pelo romântico sem disfarçar minha parcial e apaixonada admiração.

Estou aqui novamente, tão plenamente presente quanto possível, agora tentando descrever minhas impressões com equilibrismo mental, do mesmo jeito que os malabaristas que se apresentam da ponte. E como os turistas que balbuciam seus desejos enquanto esfregam o bronze das estátuas dos santos, rogo que me emprestem um pouco de bom senso, a fim de que eu deixe as palavras em excesso correrem junto com as águas por baixo da ponte. Do mesmo jeito que por vezes, em costumeiras inundações, tentam levar junto a cidade rio abaixo.

Rodo lentamente o olhar por Josefov, Staré Mésto, Nové Mésto, Malá Strana, Prazský Hrad e Hradcany – os seis bairros próximos e pequenos – antes que o céu torne-se negro, embora a escuridão também traga lá grande beleza à cidade. Esqueço o redor e paro a vista sobre a poderosa colina Hradcany, sobretudo em seu magnífico castelo, e o brilhantismo que agora se impõe, do meu olhar saca suspiros. A catedral perfura o céu e a mim, pináculos agudos tal qual há pouco fizeram os da Igreja Týn.

O céu vai se tornando escuro, as luzes vão-se acendendo e as estrelas aparecendo. Em algum lugar, por trás do horizonte onde concentro o olhar, o Sol irá se pôr aqui para nascer no Japão.

É um momento em que o tempo voa, que o notamos mais breve que por todo o dia, quando ambas se unem num só feixe de luzes e sombras iluminando, ora em corretíssima luz dourada, ora em novas, intrigantes, sombrias e mágicas perspectivas obscuras. E como se o dia não bastasse à à cidade das mil torres, é hora boa para deixarmos a beleza da ponte e espreitarmos os becos de Staré Mésto.

É quando por ali se escondem alguns surpreendentes segredos da cidade, entre edifícios de delicadíssimo art nouveau (felizmente longe do brutalismo arquitetônico funcional socialista de outrora) e guardam-se boa parte de seus feitiços. Por onde é imperioso caminhar entre seus becos e ruas tortuosas para descobri-los, tentando abstrair-se da multidão de turistas.

Como se uma não bastasse, voltei a Praga pela terceira vez para contemplar o por do sol sobre a ponte Carlos.

África do Sul on the road – Set 2023

Fotos: Robert Ager e Grace Downey – OVERLANDER http://overlanderbrasil.com/

Uma viagem nasce

Enquanto hoje começo a planejar o que levar nas malas, mergulho na memória e relembro como nasceu esta viagem. Cada jornada tem sua gênese peculiar, e entre as muitas possibilidades, esta se originou na simplicidade de um e-mail. Ele trazia consigo uma aura instigante: “Confirmação de datas, inscrições abertas: Expedição África do Sul, setembro de 2023. Uma experiência totalmente independente, 18 dias explorando esse incrível país.” Os remetentes eram Robert e Grace, da Overlander.

A atração que a mensagem exercia em seu resumo era indomável: “de safaris na reserva Sabie Sand a um dos pontos altos da Garden Route – a cidade à beira-mar de Knysna – da degustação de vinhos na pitoresca Franschhoek à beleza da Cidade do Cabo”. Pronto! Num estalar de dedos a apresentação me levou a mergulhar no programa, embora o texto guardasse surpresas e enigmas: “Entre em contato para desvendar todos os detalhes”, sussurrava o convite final. A provocação culminava na descrição de “uma jornada única, cruzando o país em veículos 4×4”. Era um chamado, especialmente para nós, apaixonados por incursões motorizadas e aventuras que desviam dos caminhos previsíveis. Tanto que meus sentidos não podiam rejeitar.

Confirmada a disponibilidade com minha esposa, prontamente escrevi à Grace. Sua resposta veio mais subitamente ainda: “Agradecemos seu interesse na Expedição África do Sul. Anexamos informações abrangentes sobre a viagem, uma oportunidade de explorarmos as regiões e locais da África do Sul mais populares internacionalmente, mas também alguns pouco visitados, além de redescobrirmos lugares eventualmente familiares ao viajante, contudo sob nova perspectiva.”

Guiados pelo casal, viajaremos em grupo, 8 no total, com 19 brasileiros, cada um conduzindo sua própria picape 4×4, atravessando cidades animadas, paisagens diversas, biodiversidade extraordinária e com histórias cativantes. Além disso, o mês de setembro coincide com a primavera, quando o clima é agradável e mais quente que o europeu.

Das Planícies às Montanhas, do Mar à Cidade

Apenas oito horas e meia de voo direto separam o Brasil da África do Sul, pela TAM, futuramente também pela South African Airways ressurgida das cinzas. Contudo, hoje, a dez dias de pôr os pés no solo sul africano, esse tempo parece uma eternidade. Uma vez lá, por quinze dias atravessaremos a África do Sul em 3.500 km de estradas pavimentadas e não.

Guiados por Grace e Robert, nos hospedaremos em hotéis e pousadas charmosas, cuidadosamente selecionados, começando pela cidade de Dullstroom, a 200 km de Johannesburgo, depois passando por lugares espetaculares, como o o Blyde River Canyon, o Parque Nacional Kruger, a reserva de Sabie Sand, as Montanhas Drakensberg, o Great Karoo, o Parque Nacional Addo, , a Rota Jardim, Plettenberg Bay, Knysna, a Região dos Vinhos,em Franschhoek, a Cidade do Cabo, o Cabo da Boa Esperança e a Table Mountain.

Cada dia de jornada será marcado pela atenção meticulosa de Grace e Robert aos detalhes, desde as oportunidades de aventuras até as refeições especiais e das hospedagens selecionadas, tornando cada experiência marcante, inesquecível e segura. Enquanto espero o momento da partida, navego entre as lembranças da jornada anterior – ao Quênia e Tanzânia, em fevereiro último – e nas expectativas para esta, que compartilharei aqui suas diferentes etapas.

Aventuras boas nos esperam por lá!

Obrigado.

A seguir:

Primeira etapa: a Chegada à Porta de África

De Johanesburgo e até Dullstroom

A Cratera Ngorongoro, o final

Nos separamos faz tempo. Meu jeito de descrever as coisas numa viagem e a falta de humor já não habitam o mesmo teto há anos. Incompatibilidade de gênios mesmo. Meu gosto de narrar apenas seus prazeres – porque, afinal, têm sido bastante mais numerosos e relevantes – já não convivia bem com o mau humor, os contratempos com qualquer coisa. E tem mais. Já venci o horror de parecer com os que apoiam tudo, gostam de tudo indiscriminadamente e nunca deitam o sarrafo quando precisam. Frustrações? Apenas se necessárias. Prefiro não as descrever ou, então, as relatar com parcimônia.

Foi assim a primeira vez que avistei a Cratera Ngorongoro. Embora de tirar o fôlego vista assim do alto, parecia o céu no chão. Sem graça para um chão, sei lá. Quem esperava encontrar a Arca de Noé, a primeira visão de um chão liso e descolorido, quase estéril, manchado por lagos com não mais que dois ou três tons de verde, de uns meros sinais de exemplares da vida animal percorrendo a imensidão, não parecia tão exuberante, desde o mirante Crater ViewPoint.

Mas eu sabia: a beleza de um lugar – para se entender – tem que se saber que não é só o que se vê, senão um pouco mais: o que os olhos não conseguem perceber…*[1]

Sei lá, não sei. A cratera era muito grande, não faltava espaço para abrigar qualquer de minhas explicações a cerca da primeira impressão. Sobretudo porque eu estava com um pé atrás por ser excessivamente turística. Mas era um Patrimônio da Humanidade, afinal, que não é coisa à toa. Formada há três milhões de anos, diz-se que a antiga caldeira abriga hoje um dos mais belos paraísos de vida selvagem do planeta.

Com mais de 20 quilômetros de largura e 600 metros de profundidade, 25 mil animais selvagens – incluindo uma pequena população de rinocerontes negros ameaçados de extinção – e a mais densa concentração de leões do mundo, só de carregar estatísticas assim não era de me admirar que eu pudesse estar equivocado. E mesmo sem me tocar, vista assim do alto, a maior atração da Tanzânia aparentava ser diferente, no ecossistema, de tudo o que já havíamos presenciado desde o Quênia e por todas as partes da Tanzânia. O que não era pouco, embora dali não me aparentasse ser tudo o que se dizia dela. Se prevaleceria lá embaixo minha impressão, só o breve tempo diria. Contudo, não antecipemos o futuro!

Kudu Lodge & Campsite

Do Ang’ata Migration Ndutu Camp ao Loduare Gate – o portão de acesso ao Ngorongoro Conservation Area – foram 16 quilômetros de estrada de terra vermelha e trechos de florestas, muito boa viagem. Depois, já dentro da área do parque da cratera, igual distância até o Kudu Lodge & Campsite, onde tivemos nossa última estada na Tanzânia.

O caminho todo foi bonito, mais verde e úmido que os que passáramos, por entre terras dos pastores maasai, grandes rebanhos de gado bovino, onde vivem em seu modo de vida tradicional e genuíno. A certa altura, paramos à beira da estrada de terra para entregarmos a dois meninos duas caixas com lunch boxes não consumidos. Retribuí o discreto sorriso de um deles e lhes acenei à saída.

O lodge foi ótimo, com piscina que muitos aproveitaram, um SPA com uma surpreendentemente boa massagem, ótimos ambientes, equipe simpática, comida gostosa e uma habitação enorme. E com mata intensa circundando a propriedade, de onde ao entardecer acontecia a maior sinfonia de passarmos que eu já ouvira na vida.

A cratera – Muito mais do que uma cratera

No amanhecer do dia seguinte entramos em nossos 4×4 e descemos as paredes do antigo vulcão a caminho do fundo da caldeira. Tudo estava bem claro e nosso grupo seguia em fila. O percurso até o chão de Ngorongoro já se configurava metade da diversão. Subimos primeiramente para transpor o paredão, depois descemos por trechos de densa floresta em sua borda, com vistas encantadoras. Inclusive do lago salino bem no centro.

Quando chegamos embaixo, o lugar já dava sinais da plenitude de seu potencial. Em vida animal e paisagens. Os pequenos pontos pretos que avistáramos de cima, transformavam-se em formidáveis manadas de búfalos, de zebras e gnus estendendo-se por todo o plano da cratera. E logo, leões!

Gazelas de Thomson, hienas-pintadas, elefantes africanos, uma grande variedade de pássaros, nada de novo, era verdade, de tudo o que já não havíamos avistado em termos de vida selvagem, mas numa paisagem inteiramente nova, que ia mudando à medida que cruzávamos o terreno, de planícies de cascalho às savanas de gramíneas, de pântanos cinzentos às florestas irregulares, de flamingos a pássaros, de poças de água a lagos com hipopótamos.

Não havia girafas, e soubemos que simplesmente porque há pouco alimento para elas – árvores – e porque a borda da cratera é muito íngreme para ser descida por aqueles belíssimos animais. E ali, a vida selvagem parece tão acostumada com os humanos e seus jipes que parecem ignorá-los por completo.

Encontramos esqueletos de búfalos e crânios de elefantes, a cratera se revelando como a parte mais fenomenal de nosso incrível safári na Tanzânia. Fazia tempo eu já reconhecera o privilégio de estar ali, inclusive pela particularidade de assistirmos a uma caçada de uma leoa a uma zebra. Sem sucesso, mas digna de um episódio da National Geographic. Faltou um por cento para o desfecho favorável à leoa.

Muito mais do que minha vista aérea havia enxergado, Ngorongoro tornava-se aos olhos não só uma cratera vulcânica extinta de renome mundial, senão o maior espetáculo de vida selvagem da África, um tapete plano de gramíneas exuberantes e piscinas eternas de água doce, um mundo perdido de ação ininterrupta, uma insuperável exibição de vida selvagem com beleza cênica a emoldurá-la.

Uma “experiência de vida na África”, usando seu clichê mais popular. E mesmo que em certos momentos estivéssemos disputando a cena com dezenas de outros jipes, batendo e pulando em busca do melhor ponto para proporcionar aos seus passageiros a melhor vista de uma caçada, certamente é mesmo a “experiência de safári de uma vida”.

À medida que progredíamos, o show na natureza se mostrava ainda melhor, maior e mais admirável. Nada pode estar mais longe da verdade quando se diz que sempre acontece algo incrível logo à frente, seja da vida animal, seja nas paisagens arrebatadoras.  E havia mesmo ação por toda a parte. Em cenas dignas de documentários do Animal Planet.

Em fevereiro, estação das chuvas que ocorrem de novembro a maio, o período é mais seco, mas chove. Não como em março e abril, mas chuvas curtas, e geralmente ao fim da tarde. Como aconteceu naquele dia.

A cratera Ngorongoro havia tempo consagrara-se para mim como parte memorável de toda a nossa jornada. E nem teria sido preciso subirmos uma colina, sairmos dos jipes lá no alto, apreciarmos o fabuloso cenário e depois descermos, sermos parados pela polícia do parque e multados por termos nos afastado mais que 20 metros do veículo. Depois de paga a multa pelo infrator (não revelo seu nome nem morto!), na verdade senti foi inveja de não o ter acompanhado na transgressão.

A minha impressão final? Que se alguém que lá esteve não gostou, o problema não está com a cratera!

Nairobi, o retorno

Às 19:30h do nosso último dia de safari jantamos e preparamos nossas coisas para a longa jornada de volta a Nairobi. Na manhã seguinte nos preparamos para as estradas de asfalto com seus muitos carros, edifícios de pedra e a agitação em lugares como Karatu e Mto wa Mbu, com lojas de lembranças e presentes. Era brutal o choque entre a natureza em que vivemos nos últimos dias e o mergulho nas estradas e cidades.

Na rodovia, fizemos uma parada na região do lago Manyara, lugar chamado Treetop Walkway, onde descemos dos carros para apreciar a vista aérea do lago e de um belo babobá.

A 27 quilômetros, paramos em Esilalei para visitarmos uma aldeia Maasai (leia no post específico, anterior). A visita aos maasai – embora esteja mais para uma armadilha de turistas do que se espera de uma experiência autêntica – valeu a pena.

 Noventa e cinco quilômetros depois, chegamos ao Tembo Club onde almoçamos e ouvimos música ao vivo. Seguimos em direção à fronteira com o Quênia, onde ingressamos pelo Namanga Border Crossing.  Cruza-se a fronteira com rapidez maior que o tempo de colocarem toda a bagagem do grupo dentro do microônibus. E enquanto ambulantes tentavam nos vender badulaques com uma técnica de vendas quase irritante. Nos despedimos dos motoristas tanzanianos, cruzamos a fronteira e reencontramos nossos motoristas quenianos.

Chegamos em Nairobi, nos hospedamos no mesmo bom hotel, jantamos e nos preparamos emocionalmente para o dia seguinte: uma visita ao Elephant Nursery e ao Giraffe Centre, duas atrações muito mais atraentes para crianças do que para adultos, mas que estes devem comparecer, porque é fundamental sua ajuda para a manutenção deles.

Naquela noite encerraríamos nossa memorável jornada de experiências soberbas, de momentos felizes, de memórias marcantes, de convivências fabulosas e conhecimentos enriquecedores. Era o dia de arrumarmos mais cuidadosamente nossa bagagem e comemorarmos numa churrascaria brasileira, para mais tarde embarcarmos para Addis Abeba a caminho do Brasil. Fora uma jornada inesquecível de safári africano, e de voltávamos para casa felizes e recompensados plenamente em nossas expectativas. Eu estava feliz com o retorno, porque por mais espetacular que seja uma viagem, o melhor é voltar para casa! Sobretudo para planejar a próxima. Até lá!

OBRIGADO!


[1]Da letra de Paulinho da Viola para a canção Sei Lá Mangueira.

Do Serengueti ao Ngorongoro

Ang’ata Migration Ndutu Camp – Serengeti

Dormi sob um céu de meia lua e acordei com o sol rendendo o satélite. Em sua troca diária de turno, lutava para aquecer o inverno naquela parte da África. Era ainda um anúncio a luz da manhã, não a tangerina que logo encheria o céu. O frio era suportável, mas de sentir. Abri o zíper da cabana, fechei o do casaco, coloquei a cabeça para fora e encontrei “nosso” Maasai enrolado em seu olkarasha – o tecido xadrez que eles usam como capa e para afastar o frio. Cobria-lhe também a cabeça. Era azul, em vez do tradicional vermelho.

Parado a dez metros de nossa “porta”, parecia ter permanecido ali por toda a noite. Era discreto, mas magnético. Cumprimentei-o e obtive sua resposta, embora o desejo fosse de conversarmos, ainda que impedidos pelo muro das línguas. Estiquei-me um pouco mais e quase ao peito a barraca, olhei para os lados e avistei a fileira de outras. Contei doze, como quem não tivesse o que fazer. Ouvi vozes despertando. E à frente, o ruído de mato, que dançava ao sabor da brisa. A paisagem que a vegetação proibia, eu sabia ir até o horizonte. Pena não poder avistá-la, enxergar a espetacular, inigualável savana do Serengeti. O acampamento não tinha cercas, nem mesmo um fio de arame. Era o que o integrava à natureza de um modo pouco invasivo e ao mesmo tempo encantador. Dava para notar, dava para sentir: ali por trás todo o poder da savana, talvez animais, quem sabe, afastados pela ação do “nosso” maassai.

Próximo ao Lago Ndutu, o Ang’ata Ndutu Camp ficava bem perto da planície de grama curta do Serengeti. “Ficava”, porque meses adiante seria removido, desmontado e guardado para a nova temporada. Por aquela imensidão, os gnus se reúnem aos milhões em fevereiro e março. E estávamos em fevereiro!

O “maior espetáculo da Terra” – a migração, quando cruzam a fronteira aquática com o Quênia – só ocorre em julho, mas os animais que a protagonizam preparam-se para ela. Embora o Serengeti abrigue bem mais animais do que os gnus e os Cinco Grandes, inclusive a destacar os grous coroados, são aqueles os protagonistas.

Avistáramos muitos deles no dia anterior, num dia de pleno e fabuloso safari, experiências e encontros. Tudo tão perto da ação que parecia estarmos na primeira fila de um cinema. Um Land Cruiser como aqueles, com seu teto ajustável, permite vistas panorâmicas em 360°. Enfim, tivemos ali todas as demonstrações possíveis da singularidade do Serengeti. Contudo, agora, não resistia à vontade de conhecer a joia do dia: a cratera Ngorongoro, embora não fosse razoável esperar por nada mais de espetacular que tivéramos até então. Genuinamente, eu sentia que depois do Serengeti seria demais esperar que a cratera superasse nossa experiência.

Mas, primeiro o café

O homem segurava um cajado, andava curvado enquanto nos guiava pelo caminho reto até a tenda central. Protegia-nos da natureza selvagem e de sua agressividade. O cajado parecia lhe ser útil, indo à nossa frente, a distância confortável para ouvir nossos passos. O desjejum com o grupo foi com café preto tanzaniano. Bom, mas somos brasileiros, e gostamos de café. Minha fome e a dimensão da savana que dali avistávamos parecia alargar tudo em todas as direções. Espaço, tempo e estômago.

Milhões de gnus, gazelas e zebras provavelmente começavam seu desjejum também, em marcha lenta em sua busca cíclica por pastos verdes. Dali a poucos meses, estariam do outro lado do Rio Mara. Por enquanto, seu território tinha mais de 15 mil quilômetros quadrados que sustentam e abrigam leões, leopardos, chitas e hienas, além de uma série de espécies menores, de abutres a besouros de esterco. Como acontece há milênios, todos dependem do retorno dos gnus, ano após ano. Inclusive os besouros.

É aí que entra o Ang’ata Migration Ndutu Camp, acampamento montado e desmontado todos os anos pouco antes do período da migração. Quando escurece, a sensação é de segurança relativa, um clima de estar à mercê da natureza sob um indiscutível céu romântico estrelado sobre uma natureza crua, selvagem áspera e encantadora. A emoção de um safári hospedando-se num acampamento como aquele se multiplica.

Na cama, o corpo vibrava antes de adormecer. Eram doze tendas de estrutura simples, temporária, com chuveiros que pingam água quente de balde posta à noite, depois de madrugada perto do alvorecer, quando os maasai derramam baldes de água no reservatório de lata de cada barraca, nosso despertador de cada dia. As camas são boas, largas e confortáveis, com bons lençóis e travesseiros.

De resto, afora os móveis e duas lâmpadas de uma gambiarra dependurada no quarto e no banheiro, tudo é de lona ou de plástico. Até o piso. Do chuveiro e do vaso, inclusive. O banheiro privativo tem o chuveiro de plástico a dois dedos das cabeças preso por um arame. Fica inclinado, pendente.

A banca de pia de madeira tem cuba de cerâmica, mas é instável sobre o piso de terra. O vaso sanitário tem descarga que funciona. Às vezes. O lounge é o lugar para carregar celulares, baterias e tudo mais, disputadíssimo único ponto com eletricidade disponível.

Ideal para conhecer outros viajantes e compartilhar histórias do dia, tem sofás, duas mesas baixas defronte a eles e uma estante de livros e guias. Os cafés da manhã e jantares são servidos na tenda de refeições, logo ao lado. Grande e medianamente iluminada, com uma grande bancada para o autosserviço dos hóspedes. Por trás, a cozinha. Que não visitei porque cedo aprendi que nunca se visita uma cozinha de restaurante.

Uma fogueira é acesa todas as noites, a uns 20 metros adiante da cabana principal, com cadeiras ao redor, não muito concorrida devido ao frio à noite.

Comi o desjejum pensando na jornada dos gnus. Eu sempre os achei entre os mais estranhos, embora o mais emblemático das savanas africanas. Morfologicamente falando, quero dizer. São esquisitos, mal-acabados, parecendo feitos às pressas e sem capricho no desenho. Pertencem à família dos antílopes, mas quando os olhamos fica difícil imaginá-los primos dos elegantes impalas e gazelas. A cabeça lembra a de um javali, o pescoço, de um búfalo, as listras, de uma zebra, as corcovas atrás dos ombros, sei lá que bicho, mas a traseira, de uma hiena, a cauda de uma girafa e o passo – desajeitado que só – de nenhum outro, apenas seu. Com chifres diminutos, olhos minúsculos, rostos alongados e barbas longas, diz um conto popular local que seu crânio carrega o cérebro de uma pulga. Talvez seja um exagero. Só talvez.

Caminhando centenas de quilômetros, os desajeitados animais serão pisoteados por eles mesmos enquanto descem caoticamente as barrancas escarpadas para mergulharem no rio em sua saga anual. Muitos se afogam, quebram as pernas, são abocanhados por crocodilos, carregados pelas correntezas e comidos mais tarde por abutres. Os que chegam à margem oposta são esperados por leões e hienas. A jornada destas criaturas – apesar de seu sentido absolutamente lógico, a busca pela sobrevivência nos pastos verdes – não deixa de ser enigmática e surpreendente e convida-me a aprofundar-me. Sabe-se que o motor desta eterna movimentação é simples: as fêmeas reproduzem durante todo o ano, estão amamentando ou grávidas de outro. E de junho a setembro, elas fazem ambas as coisas enquanto migram, o que exige muita energia e alimento, o que buscam consumindo o máximo de gramíneas possível. Então, se faltar…

Um dia luminoso e de ação

Eu estava no Serengeti, nada menos. Era o que bastava. Que embora de uma paisagem simples e de poucos tons, é aberta, vasta, de engolir os espectadores. Tirando os kopjes – as formações rochosas que surgem como ilhas em meio ao oceano de grama verde, nas quais figueiras-da-rocha ficam suas raízes entre fendas e onde leões em família costumam abrigar-se – tudo mais lembrava as savanas do Quênia.

Senti muitas vezes no peito o privilégio sublime de estar ali. E embora não como parte do lugar, mas como ardoroso espectador, sentia todos os seus pormenores, vibrações, vindas de um dos ambientes mais selvagens do planeta, de uma natureza cuja força é formidável. E eu, com regras ultrapassadas, imaginava: “Não é justo querer nada mais”. Mas havia Ngorongoro pela frente, que é coisa de não se perder um instante sequer.

O dia estava luminoso como sempre, ao ponto de lembrar-me da canção de Haroldo Barbosa e Luiz Reis – “Luminosa manhã, pra que tanta luz…” – o sol tocava os olhos de quem se atrevesse a explorar o céu, até as profundezas da retina. Duas nuvens decoravam o azul e eu sem saber que estava escrito: mais tarde choveriam.

Foi quando um balão mágico sobrevoando bem próximo à minha cabeça seguia seu caminho improvisado. Acabara de decolar. Era belíssimo o voo, que eu apreciei tanto quanto seus entusiasmados tripulantes. Não houve luta contra a vontade de tirar fotos dele e de parar. Fiz tantas quanto pude enquanto o balão esteve à vista. Comigo ficará guardado aquele momento. Por fim, entrei no jipe e partimos para o próximo destino, no dia 20 de fevereiro, às sete e meia da manhã. Meia hora depois estávamos à margem do encantador lago Ndutu, admirando os flamingos que os habitam e embelezam, rodeado de acácias.

A todos!

Materializadas aqui minhas histórias desta jornada. Dedico este texto à minha companheira e aos colegas de viagem, aqueles que hoje estamos longe, mas todos – em conjunto ou isoladamente – sempre me destinaram carinho, amizade, sorrisos marcantes e momentos de boas conversas. Lotaram minha memória de lembranças e o coração de emoções. E fazem parte de minha história.

A seguirNgorongoro e Nairobi, a despedida

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Numa aldeia maasai – O tema é vermelho e a “aldeia” um palco

Era o dia da visita aos maasai. Eu gostava daquilo, embora o turismo étnico já tenha me agradado mais, antes dos efeitos negativos do turismo. Lembro-me bem de contatos inesquecíveis com tribos de diferentes etnias nas montanhas de Kyaing Tong (Chiaing Tong), em Myanmar, e com outras no Vale do Rio Omo, na Etiópia. Naqueles tempos eram experiências autênticas, mas nós, turistas, transformamos tudo num teatro, onde num palco feito para emprestar autenticidade, povos indígenas fazem suas performances.

Eu não tinha certeza se seria algo descaradamente turístico ou tradicional, isto é, uma visita a uma aldeia-cenário ou aos masaai vivendo seu dia normal. Talvez até um meio-termo. Embora não tenha ficado dúvida de que eles e nós estivéssemos desempenhando nossos papéis, e com a mesma dignidade: demonstrando seus costumes, cultura e modos de vida, e nós promovendo seu desenvolvimento social, muitas vezes até sua sobrevivência. Não só eles, mas o mundo inteiro sofreu com o desaparecimento de turistas, sem precedentes, com a pandemia.

Especialmente nessas comunidades mais pobres, somos importante fonte de rendimento, o que basta para tornar qualquer visita defensável. Não há mal nenhum, e eu não deixaria de recomendá-la, mas sim que estejam preparados para atividades teatrais, que não ocorrem só ali, como também nas tribos das mulheres-girafa, na Tailândia – refugiadas de Myanmar – e com os himba, da Namíbia.

A visita turística à “aldeia maasai” foi uma encenação de aula escolar, da experiência com líderes pedindo doações. E a avidez com que nos mostravam seu artesanato à venda, dispostos num corredor – o maasai mall – por preços nada originais, embora coisas que nós visitantes sempre compramos. Fomos conhecer uma “residência” e outras ocas com diferentes funções, vimos uma demonstração de como acendem fogueiras, os bomas – cercadinho onde abrigam seu gado – e nosso grupo, fantasiado à moda maasai, dançou como eles, estimulados ou carregados.

Nada pareceu autêntico para mim, embora muito bem montado para tornar-se como tal. Quase convincente, algo atraente, embora não tenha me marcado como uma experiência da vida maasai sendo levada em seu quotidiano. Antes de viajar eu lera acerca de comunidades onde visitas de pequenos grupos turísticos são possíveis, mas raras, em geral àquelas suportadas por um ou mais lodges, cujo conceito fundamental é o da “preservação com coexistência”.

Em verdade, alguns trabalham juntos com os maasai para melhorar suas perspectivas de vida, sobretudo atentas a não mudarem o ambiente que habitam, suas tradições, interferindo minimamente em suas aldeias. Seu maior obstáculo é mantê-los nas proximidades, portanto, evitar seu nomadismo, em busca de água e pastagens.  Ela é parcialmente superada por meio de métodos de coleta de chuva e de poços artesianos, entre outros. Tive o conhecimento de que impressionantes 54.000 litros de água foram colhidos da chuva e distribuídos num período de quatro meses e, que em março de 2018, certas aldeias tiveram a ajuda desses lodges no aumento dos tanques de retenção para 20.000 litros, incentivadas por meio de doações dos clientes hóspedes.

Soube que algumas comunidades participam de um rodízio de reabastecimento a cada sete dias. E não só isso, que exercem trabalhos de educação ambiental, de maneiras de se tornarem mais sustentáveis em suas próprias comunidades e tentarem entrar em sintonia com o meio ambiente, aproveitando ao máximo as estações do ano. Estes mesmos lodges utilizam sistemas de reutilização de águas residuais de cozinhas e chuveiros na manutenção de jardins de arbustos.

Se eu recomendaria? Sim, se não houvesse alternativa.

Obrigado pela leitura. Ao infinito e além, todos nós!

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A seguir – O Serengueti e Ngorongoro