As Reservas dos Lagos Nakuru e Naivasha
O cheiro inesquecível da savana me desperta. Adormeci bem, sem tormento ou contratempo, sem sonhos a me perturbarem. Noite passada lenta e sem ruídos e, ao despertar, um novo homem se levanta crendo não haver forma melhor de amanhecer numa viagem tão intensa.
Então, Bom dia! Ensolarado e com novos destinos e expectativas. O Sol mal despontara e nós já estávamos a caminho do desjejum.

Adeus Samburu, e obrigado por nos proporcionar uma introdução impecável às savanas do Quênia, uma natureza onde o homem é secundário, senão os animais protagonistas, apesar de alguns não terem feito questão de aparecer. E a paisagem era de dominar os olhos e ouvidos.

Para alguns, também, alojou-se nos corações e mentes aquele lugar dos mais isolados, onde turistas há, mas não muitos, tanto que bastam uns quilômetros adentro das reservas para pensarmos que ela nos é exclusiva.

A “família” pouco a pouco vai se juntando com sorrisos e cumprimentos. Viagens têm seus efeitos, sobretudo quando para lugares onde se encontram costumes, regras, culturas e sociedades tão diferentes das nossas. Entre as mais notáveis, conhecer pessoas, que embora permaneçam por lá onde as encontramos, quando retornamos, por vezes nos acompanham para o resto da vida.

Eu refletia que nunca havia experimentado encontrar gente tão bacana de meu próprio país numa viagem em grupo. Sorte a minha. Todos chegam às 7:30, hora marcada, com o dia já a pleno Sol. Os dias em safaris começam cedo, com despertar às seis da manhã e saída uma hora e pouco mais depois.

– Jambo, diz Oburu em swahili, com seu vozeirão de radialista, tamanho de Schwarzenegger, sorriso extenso como o Quênia. Fica ali de pé, com as mãos sobre os quadris, dentes à mostra e faz sinal de “V” enquanto me aproximo. Depois, me estende a mão. O olhar não é novo, de todos os dias, embora naquela manhã tenha me parecido ainda mais acolhedor.

– Jambo, retribuo. Estamos prontos, dear friend!

Jipes estacionados defronte ao lodge, logo carregaram-se com nossa bagagem, água e petiscos. Nos metemos neles, também. E seguimos. Comigo, nenhum receio do que encontrar nos Lagos Nakuru e Naivasha, pois a viagem vinha crescendo em realidade e superando expectativas.




Depois de dois dias fabulosos em Samburu e Buffalo Springs, com avistamento de zebras, elefantes, girafas, leoas, javalis africanos, impalas, pássaros, partimos para novos destinos, que antes foram-nos apresentados por Márcio no briefing da noite anterior:
– O Lago Nakuru abriga enorme população de flamingos, mas também das girafas Rothschild, de rinocerontes pretos e brancos, bem como de búfalos e diversos outros animais. No caminho, faremos uma parada para conhecer a cachoeira de Nyahururu e, no final da tarde, já no destino, faremos um safari em Nakuru até o pôr do Sol, que lá promete! Em seguida, faremos nosso check-in no Lake Nakuru Lodge. Ah, o almoço será um “Lunch Box”.

“Puxa! Rinocerontes brancos e negros!”, penso eu no privilégio de avistar aqueles raros animais. Não era pouco o que nos esperava. O Parque Nacional Nakuru, mais famoso pelas colônias de flamingos habitando as margens do lago, é um dos três mais visitados do Quênia, reconhecido como excepcional centro de observação de aves – mais de 400 espécies -, entre elas a águia africana, para além de habitat de leões, impalas e muitos outros animais. 400 espécies!

Dali ao destino, 310 km de frutas e legumes à beira da estrada, de plantios organizados, de savanas, lugarejos, vilas e cidades. Saímos pelo Arche’s Gate, aquele da Elsa, e logo tomamos a rodovia A2, a Nyeri – Nanyuki Road.

Para além das enormes possibilidades de um safari _____________
O itinerário não era apenas o deslocamento, uma viagem longa de carro, senão também observar e me tocar com pequenas cabanas sem eletricidade, água corrente e saneamento, crianças descalças carregando reservatórios de água, a difícil vida diária das pessoas no Quênia. Sobretudo porque aparentemente encontraram seu modo de felicidade com tão pouco, apesar da luta pela sobrevivência ser, às vezes, comparável às dos animais da savana. Provavelmente, para mim, seria este – ao fim da jornada de 2.000 quilômetros pelos dois países – o maior legado que me deixariam, um benefício adicional da viagem, além dos prazeres dos safaris.




Seu impacto se estendia muito além das belíssimas paisagens, dos encontros com os animais. E as reflexões pessoais, que mexiam comigo durante nossa estada, pareciam favorecer o crescimento pessoal, a sedimentação de valores e a avaliação do quanto certas viagens podem fazer por nós. A reflexão levou-me às palavras de John Steinbeck, o escritor americano: “As pessoas não fazem as viagens, as viagens é que fazem as pessoas.”

O lago Nakuru ______________________________________
A próxima morada, por duas noites, será no Lake Nakuru Lodge. Paramos na altura de Nanyuk para uma vista do Monte Quênia, bem distante e parcialmente encoberto por nuvens. Depois, na cachoeira Nyahururu e, no fim da tarde, um safari de fim de tarde já no caminho do lodge, ao redor do lago com milhares de flamingos e pelicanos, além de uma surpreendente fauna dos animais típicos das savanas do Quênia. Trata-se de uma das melhores reservas para observarmos os rinocerontes negros e brancos, além de manadas de búfalos, felinos, grande variedade de aves e muito mais.

Fizemos um stop no Mountain View Curio Shop, em Nanyuk, a 112 quilômetros, para café e banheiros. Algumas fotos e vida que segue. No quilômetro 138 entramos na Rodovia 85, em Naromoru, e paramos na Equator Curio Shop, a 220 quilômetros, para café, banheiros e comprinhas. Até a Thompson Falls, em Nyahururu, aos 235 quilômetros, estacionamos no Thomsons Falls Lodge, para comer nossos lunch boxes sentados numa mesa no jardim.

Em seguida fomos conhecer a cachoeira. Não eram as “sete quedas” , mas o lugar, interessante e um bom relaxamento antes de prosseguirmos a viagem. Eu e a maioria avistamos do mirante e três ou quatro desceram com uma guia até a base da queda d’água, que tem cerca de 72 m, com água do rio Ewaso Narok, que vem do extremo norte da cordilheira de Aberdare. Da borda do desfiladeiro havia algumas áreas de observação, onde paramos. Também havia dois ou três habitantes locais vestidos com roupas de tribos que insistentemente nos abordavam para uma fotografia deles, por um valor caro que negociado caia à metade. Eles não nos deixavam em paz e perseguiam.


Almoçamos e seguimos para o Lake Nakuru National Park. Restavam, então, apenas 76,1 km, via C83, até o Lake Nakuru Lodge, dentro do pequeno parque. O safari seria no caminho do acesso ao parque até a hospedagem. A tarde ia em meio quando chegamos ao Lanet Gate.



Dali ao lodge seriam mais 15 quilômetros de safari, quase sempre às margens do lago. Entramos e os primeiros animais avistados foram as zebras. Depois babuínos, búfalos e cervos, além dos macacos vervet azuis e antílopes Waterbuck, animais grandes e robustos com orelhas arredondadas, manchas brancas acima dos olhos, nariz, boca e garganta. Os machos têm chifres anelados que podem medir até 100 centímetros de comprimento. Um belo e não muito comum animal.


Um safari moderno começa entrando num jipe, de manhã bem cedo e ao fim da tarde, fotografando e observando os animais, voltando ao lodge para o desjejum às nove, descansando o resto da manhã e parte da tarde para aproveitar a piscina, massagem, uma boa refeição. Às 16 h, o safari noturno começa e vai até o começo da noite. Depois de três dias nisso, voa-se para casa. Nada contra. Fiz dois e gostei muito. Mas o nosso foram dez dias “fora do caminho batido”, das oito da manhã às cinco da tarde e por tudo o que há de melhor no Quênia e Tanzânia.



Lake Nakuru Lodge – Um pôr do Sol para não esquecer ______________

A luz que brilha ali parece mais clara, maior. E o céu, de ver estrelas, constelações inteiras. O Animal Planet desfilava à minha frente, na linha do horizonte de nossa varanda. Numa trilha, em fila indiana, uma manada de búfalos seguia, com adultos e jovens, consagrando-se numa das típicas e mais belas paisagens que a África me proporcionou nesta viagem.

Trouxe muitas destas comigo de volta à casa – na memória e na câmera -, mas nenhuma de superar a majestosa beleza do pôr do sol no Lago Nakuru.

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A seguir
As águias pescadoras do Lago Naivasha e um Safari a pé na Crescent Island.
Encantador e inspirador…que delícia de leitura! Parabéns !!
Viajar é Viver !
Veja o mundo. È mais fantástico do que qualquer sonho !
Forte abraço!
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Mais uma vez a leitura é cheia de boas recordações! Gratidão.
Vejo a foto do Oburu e lembro do sorriso bonito e genuíno de todos os quenianos. E dos tanzanianos também. Cativantes!
Belíssimas as fotos do por do sol. Parabéns!
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Show Arnaldo!
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Belíssimo relato de lindos dias de safári. Texto inspirador e cativante, quando não por descrever lindamente as paisagens, mas sobretudo pela emoção que transparece entre os parágrafos. Parabéns!
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