A História de Elsa

Uma placa entalhada em madeira, um nome feminino em destaque. Pregada a uma parede do Archer’s post gate – um dos portais da reserva, ornado à pele de zebra – chamou-me a atenção. Dizia: “Em memória de Elsa, que ajudou a salvaguardar esta reserva de caça”.
Mais do que atrair, a placa levou-me anos atrás no tempo, com a surpresa do inesperado. Embora nenhuma outra referência houvesse, imaginei tratar-se da jovem leoa, cria órfã adotada como animal de estimação pelo guarda florestal George Adamson e sua esposa Joy, ativistas africanos da vida selvagem e conservacionistas nos anos 50. Não podia haver outra Elsa. Tem que ser esta!, pensei entre surpreso e encantado com o “encontro”.
Eu estava na casa de Elsa, da leoa que fez grande história no Quênia, na África e no mundo. Contada num livro que vendeu 5 milhões de exemplares, e mais tarde no filme Born Free – ou A História de Elsa – conta a vida da leoa criada como membro da família, que se recusou a mandá-la a um zoológico, destino de suas duas irmãs, ao resgatá-la de uma leoa recém abatida. Ainda que um animal de estimação, criaram-na para sobreviver na natureza.
“Nascida livre, tão livre como o vento sopra, tão livre como a grama cresce, livre para seguir seu coração” dizia a letra da bonita canção tema de Elsa no filme, cuja trilha sonora foi composta por John Barry. Vencedor de um Óscar, em 1966, época de minha adolescência, o filme ajudou a consolidar de vez meu desejo de conhecer esta parte da África. Era admirável que Elsa ainda estivesse tão fresca em minha memória, que tão inesperada quanto surpreendentemente tivéssemos nos “encontrado” ali…
Quando Elsa tornou-se adulta, os Adamson perceberam que chegara a hora devolvê-la à liberdade, esperando que pudesse sobreviver por sua conta. Tempos depois, a encontram e foram surpreendidos com um acolhimento muito especial. Meu Deus, quantas lembranças me voltaram da mente e, discretamente, me emocionaram.
Uma outra placa, ao lado da de Elsa, homenageia a leoa Kamunyak, que adotou um bezerro de oryx. Pronto! A apresentação da reserva Samburu estava feita, e de modo inesperado e romântico.
A história inspirou milhares de pessoas a se engajarem na causa da preservação da vida selvagem e pensar que eu estava no território de Elsa foi uma auspiciosa introdução ao Samburu National Park. Hoje, anos depois de Elsa, a presença de leões continua a ser notável na reserva e eu estava certo de que o adoraria.
Para mim, fora uma estupenda graça. E livre, tão livre como o vento sopra, retornei ao tempo presente, com o Quênia vivo nos olhos e os ouvidos despertos por alguém me dizendo discretamente ao pé do ouvido:
– Não há água nos banheiros!

A seguir: De Nairobi ao Samburu – Longe, tão longe e distante
Rapaz!! Esse menino !! É mesmo um romancista de primeira! Usando um jargão bem pernambucano para agradecer e elogiar o companheiro de viagem Arnaldo por mais esse belo post.
Rogério Braga
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Meu camarada (usando um jargão bem carioca!), muito obrigado, especialmente pelo “menino”, depois pelo “romancista de primeira”! Sou eu que devo agradecimento à sua leitura, comentário e elogio que, saiba, assim como de todos os outros leitores é o maior impulso ao meu contínuo ato de escrever!
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Texto apaixonante de ler. Assim como nos faz viajar com você, tem o poder de fazer com que tenhamos sentimentos semelhantes aos seus. Adorei! Eternamente fã do estilo “tão seu” de contar e encantar seus leitores.
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Bela homenagem à Elsa, meu irmão!
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Delícia de leitura!
Leve, instigante, inteligente…Sensacional 👏👏
Já estou buscando assistir *Born Free*
Sempre Parabéns 👏👏
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Arnaldo, com a arte das palavras, você provocou em mim uma reflexão sobre o que vivenciamos neste Safari. Bela narrativa! Belas imagens! 👏
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Obrigado, Vera!
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